- Capitulo dez -
Mais um aluno é petrificado
Logo depois de Harry, Rony e Hermione saírem do salão, Lockhart disse:
- Bem, por hoje é só. - disse com um falso sorriso no rosto. - Se alguns de vocês ainda quiser falar comigo, aproveitem a oportunidade.
Yasmin saiu do salão assim que Lockhart terminou a frase. Foi em direção da sala comunal da Grifinória. Assim que chegou na porta ouviu a voz de Harry.
- O que não é legal? - disse com raiva. - Qual é o problema com todo mundo? Escuta aqui, se eu não tivesse dito aquela cobra para não atacar Justino...
- Ah, então foi isso que você disse?
- Que quer dizer com isso? Vocês estavam lá, vocês me ouviram...
- Ouvi você falar esquisito - disse Rony. - Língua de cobra. Você podia ter dito qualquer coisa, não admira que o Justino tenha entrado em pânico, parecia que você estava convencendo a cobra a fazer alguma coisa, deu arrepios, sabe...
- Eu falei uma língua diferente? Mas, eu não percebi, como posso falar uma língua sem saber que posso falá-la?
Tanto Rony quanto Hermione não responderam nada.
- Querem me dizer o que há de errado em impedir uma enorme cobra de arrancar a cabeça do Justino? Que diferença faz como foi que eu fiz isso, desde que o Justino não precise se associar ao clube dos Caçadores Sem Cabeça?
- Faz diferença, sim - disse Hermione, falando, afinal, num tom abafado -, porque a capacidade de falar com cobras foi o dom que tornou Salazar Slytherin famoso. É por isso que o símbolo da Sonserina é uma serpente.
- Exatamente - confirmou Rony. - E agora a escola inteira vai pensar que você é o tetra-tetra-tetra-tetra-neto ou coisa parecida...
- Mas eu não sou - disse Harry, em pânico.
- Você vai achar difícil provar isso - falou Hermione. - Ele viveu há mil anos; pelo que se sabe, você podia muito bem ser descendente dele.
Quando Hermione terminou de falar, Yasmin entrou. Aproveitou que os três amigos estavam distraídos e foi para seu quarto.
Naquela mesma noite, Yasmin descobriu uma coisa um tanto inquietante sobre a sua ligação com Harry. Além de ter visões, Yasmin agora podia ouvir os pensamentos de Harry mesmo a distancia.
Enquanto floquinhos de neve caiam diante da torre ele ficou imaginando...
"Será que podia ser descendente de Salazar Slytherin? Afinal não sabia nada sobre a família do seu pai. Os Dursley sempre o proibiam de fazer perguntas sobre parentes bruxos."
Alguns segundos depois Yasmin ouviu outro pensamento.
"Mas eu sou da Grifinória. O Chapéu Seletor não teria me posto aqui se eu tivesse sangue de Slytherin..."
"Ah, disse uma vozinha perversa em seu cérebro, mas o Chapéu Seletor queria pôr você na Sonserina, não se lembra?"
Depois os pensamentos de Harry foram parados pelos próprios pensamentos de Yasmin:
"Harry seria mandado para a Sonserina? Mas como eu não soube..." Yasmin se lembrou do dia da Seleção "Minha conexão com Harry não estava muito forte nessa época, e eu estava bem longe de Harry para ouvir qualquer coisa."
Yasmin ficou pensando por um tempo e acabou adormecendo.
Na manhã seguinte, a neve que começara a cair de noite se transformara numa nevasca tão densa que a última aula de Herbologia do período letivo foi cancelada: A Profª Sprout queria pôr meias e encharpes nas mandrágoras, uma operação melindrosa que ela não confiaria a mais ninguém, agora que era tão importante as mandrágoras crescerem depressa para ressuscitar Madame Nor-r-ra e Collin Creevey.
Harry preocupava-se com isso sentado junto à lareira na sala comunal da Grifinória, enquanto Rony e Hermione aproveitavam o tempo para jogar uma partida de xadrez de bruxo.
- Pelo amor de Deus, Harry - disse Hermione exasperada, quando um bispo de Rony desmontou um cavalo dela e o arrastou para fora do tabuleiro. - Vá procurar o Justino se isso é tão importante para você.
Então Harry se levantou e saiu pelo buraco do retrato, imaginado onde Justino poderia estar.
Yasmin logo pegou sua varinha, ficou invisível e o seguiu.
O castelo estava mais escuro que normalmente era durante o dia, por causa da neve grossa e cinzenta que descia rodopiando pelo lado de fora das janelas. Transido de frio, Harry passou por salas onde havia aulas, captando vislumbres do que acontecia lá dentro. A Profª Mcgonagall gritava com alguém que, pelo que parecia, tinha transformado o colega em um texugo. Harry passou adiante, resistindo o impulso de espiar para dentro e, lembrando que Justino talvez estivesse usando o tempo livre pata tirar o atraso em alguma matéria, decidiu verificar primeiro na biblioteca.
Vários alunos da Lufa-Lufa que deviam estar na aula de Herbologia se achavam de fato sentados no funda da biblioteca, mas não pareciam estar trabalhando. Entre as longas fileiras de estantes, Harry( eYasmin) podia ver que suas cabeças estavam muito juntas e que aparentemente mantinham uma conversa absorvente. Não conseguia ver se Justino estava no grupo. Foi andando em direção a eles e, quando começou a ouvir alguma coisa que diziam, parou para escutar melhor, escondido na seção da Invisibilidade.
- Então, em todo caso - falava um menino forte -, eu disse ao Justino para se esconder no nosso dormitório. Quero dizer, se Potter o escolheu para sua próxima vitima, é melhor ele ficar pouco visível por uns tempos. É claro que Justino estava esperando uma coisa dessas acontecer desde de que deixou escapar para Potter que vinha de família trouxa. Justino chegou até a contar que os pais tinham feito reserva para ele em Eton. Isso não é o tipo de coisa que se fale assim, com o herdeiro de Slytherin à solta, não é mesmo?
- Então decididamente você acha que é o Potter, Ernie? - perguntou, ansiosa, uma menina menina loura de marias-chiquinhas.
- Ana - disse o garoto forte, solenemente -, ele é um ofidioglota. Todo mundo sabe que isso é a marca do bruxo das trevas. Você já ouviu falar de um bruxo decente que soubesse falar com cobras? Chamavam o próprio Slytherin de língua de serpente.
Seguiram-se muitos murmúrios depois disso e Ernie continuou:
- Lembram o que estava escrito na parede? Inimigos do herdeiro, cuidado. Potter teve um problema com Filch. Logo em seguida a gata de Filch é atacada. Aquele aluno do primeiro ano, o Creevey, estava aborrecendo Potter no jogo de quadribol, tirando fotos dele estirado na lama. Logo em seguida, Creevey foi atacado.
- Mas ele sempre pareceu tão gentil - disse Ana em dúvida -. e foi quem fez Você-Sabe-Quem desaparecer. Ele não pode ser tão ruim assim, pode?
Ernie baixou a voz, miterioso, os alunos da Lufa-Lufa se curvaram mais para a frente, e Harry se aproximou mais para poder captar as palavras de Ernie.
- Ninguém sabe como foi que ele sobreviveu àquele ataque do Você-Sabe-Quem, quero dizer, ele era só um bebê quando a coisa aconteceu. Devia ter explodido em pedacinhos. Só um mago das trevas realmente poderoso poderia ter sobrevivido a um ataque daqueles. - E baixando a voz até quase um sussurro, continuou: - Vai ver é por isso que Você-Sabe-Quem queria matá-lo para começar. Não queria outro bruxo das trevas concorrendo com ele. Que outros poderes será que o Potter anda escondendo?
Harry não conseguiu aguentar mais. Pigarreando alto, saiu de trás das estantes. Se não estivesse tão zangado, teria achado engrassada a cena que o aguardava: cada aluno da Lufa-Lufa parecia ter se petrificado só de vê-lo, e a cor foi se esvaindo do rosto de Ernie.
- Olá - disse Harry. - Estou procurando Justino Finch-Fletchley.
Os receios dos garotos da Lufa-Lufa claramente se confirmaram. Todos olharam cheios de medo para Ernie.
- Que é que você quer com ele? - perguntou Ernie com voz trêmula.
- Eu queria dizer a ele o que realmente aconteceu com aquela cobra no Clube dos Duelos.
Ernie mordeu os lábios brancos, tomou fôlego e disse:
- Nós estavamos todos lá. Vimos o que aconteceu.
- Então vocês repererem que depois que falei com a cobra ela recuou? - perguntou Harry
- Só o que vi - disse Ernie, insistente, embora tremesse enquanto falava - foi você falando em língua de cobra e açulando o bicho para cima de Justino.
- Eu não açulei a cobra para cima dele! - protestou Harry, a voz trêmula de raiva. - A cobra nem encostou nele!
- Por pouco. E caso você esteja tendo novas ideias - acrescentou depressa-, é melhor eu informá-lo que pode investigar minha família por nove gerações de bruxos, e que o meu sangue é tão puro quanto o de qualquer outro, portanto...
- Não ligo a mínima para o tipo de sangue que você tem! - tornou Harry furioso - Por que eu iria querer atacar pessoas que nasceram trouxas?
- Ouvi dizer que você detesta os trouxas com quem mora - disse Ernie na mesma hora.
- É impossível morar com os Dursley e não detesta-los. Eu gostaria de ver você no meu lugar.
E dando meia-volta, saiu furioso da biblioteca, ganhando um olhar de reprovação de Madame Pince, que estava lustrando a capa dourada de um grande livro de feitiços.
Harry saiu pelo corredor às tontas, mal reparando onde ia, tal era sua fúria. Nem reparou em Hagrid vindo em sua direção.
- Ah, olá, Hagrid - disse Harry, erguendo a cabeça.
O rosto de Hagrid estava inteiramente oculto pelo gorro de lã esbranquiçado de neve, mas não podia ser mais ninguém, pois ele praticamente ocupava o corredor com aquele seu casacão de pele de toupeira. Um galo morto pendia de suas enormes mãos enluvadas.
- Tudo bem, Harry? - perguntou ele, empurrando o gorro para trás para poder falar.- Você não está em aula?
- Cancelada - disse Harry, levantando-se. - Que é que você está fazendo aqui?
Hagrid ergueu o galo inerte.
- É o segundo que matam nesse período letivo - explicou. - Ou é raposa ou bicho-papão e preciso permissão do diretor para lançar um feitiço em volta do galinheiro.
Por debaixo das sobrancelhas grossas e salpicadas de neve ele examinou Harry com mais atenção.
- Você tem certeza de que está bem? Está cheio de calor e zanga...
- Não é nada. É melhor eu ir andando, Hagrid, a próxima aula é Transformações e tenho que apanhar meus livros.
Ele se afastou. Yasmin continuou seguindo-o.
Harry subiu a escada batendo os pés e entrou em outro corredor que estava particularmente escuro; os archotes tinham sido apagados por uma corrente de ar forte e gelada que entrava por uma vidraça solta. Estava na metade do corredor quando caiu estendido em cima de uma coisa que havia no chão.
Yasmin olhou para a tal coisa, e ficou horrorizada pelo que viu. Harry virou-se para ver melhor e também parecia assustado.
Justino Finch-Fletchley jazia no chão, duro e frio, uma expressão de choque fixa no rosto, os olhos, sem visão, voltados para o teto. E não era tudo. Ao lado dele outro vulto.
Nick Quase Sem Cabeça, que agora deixara de ser branco-pérola e transparente e se tornara preto e fumegante, e flutuava imóvel na horizontal, a mais de um metro e meio do chão. Sua cabeça estava quase inteiramente solta, e seu rosto tinha uma expressão de choque idêntica à de Justino.
Harry ficou em pé, Yasmin seguiu os passos dele. Ele olhou para uma lado do corredor deserto e para o outro e viu uma fila de aranhas que se afastava o mais depressa possível dos corpos. Os únicos sons que se podia ouvir eram as vozes abafadas dos professores nas salas de aula de cada lado.
Harry parecia pensar no que fazer, pois parecia aflito.
Enquanto ele estava parado, cheio de pânico, uma porta se abriu com uma batida. Pirraça o poltergeist, saiu em disparada.
- Ora, é o Potter Pirado! - zombou ele, entortando os óculos de Harry ao passar por ele. - Que é que o Potter está aprontando? Por que é que o Potter está rondando...
Pirraça parou no meio de uma cambalhota no ar.
Yasmin percebeu que pirraça iria fazer algo não muito favorável a Harry. Saiu correndo imediatamente para a sala de Dumbledore.
Ainda conseguiu ouvir um grito de Pirraça, mas não entendeu o que ele dizia.
Logo chegou a porta da sala e dicou visível.
- Professor, preciso falar com o senhor. - disse batendo na porta.
- Entre! - Dumbledore disse calmamente.
- Professor, o assunto é um pouco delicado, e não podemos deixar mais alguém ouvir. - Yasmin disse rapidamente.
Dumbledore fez sinal para que Yasmin o segui-se e subiu as escadas que tinham no escritório.
- Me diga que assunto delicado é este Yasmin! - disse Dumbledore ainda calmo.
-Professor, houve mais um ataque - Yasmin pausou e Dumbledore fez sinal para que continua-se. - Justino Finch-Fletchley e Nick Quase Sem Cabeça são as vitimas.
- Como sabe disso Yasmin? - Dumbledore perguntou.
- Eu estava seguindo Harry e ele esbarrou no corpo de Justino, Nick Quase sem cabeça estava parado ao seu lado sem se mover e estava preto e fumegante - Yasmin pausou para pensar no que diria a seguir. - Arranhas saiam o mais depressa possível, sem querer chegar perto dos dois. Pirraça apareceu saindo de uma das portas e viu a cena. Agora todos devem estar achando que foi Harry quem os atacou, mas eu posso provar que não, ele estava comigo, ou melhor, eu estava com ele durante o ataque, andando pela escola, ele até encontrou Hagrid e alguns alunos da Lufa-Lufa e...
- Se acalme, Yasmin - disse Dumbledore a interrompendo - Realmente não acho que Harry faria alguma coisa contra alguém.
- Então o senhor acredita que ele é inocente?
- Sim, mesmo que você também não tivesse me falado tudo isso, não acreditaria que Harry seria capaz de atacar alguém. - disse Dumbledore, sorrindo. - E acho que você é uma ótima pessoa, de bom coração, e fez muito bem em ter vindo dizer que Harry é inocente.
Yasmin sorriu e ouviu um barulho no andar de baixo.
- Acho que tem alguém aqui - disse pegando a varinha e ficando invisível.
- Esse feitiço é bem útil! - disse Dumbledore, sorrindo e indo ao andar de baixo.
Yasmin o seguiu. Já no andar de baixo, viram Harry assustado.
- Professor - ofegou Harry - Seu pássaro, eu não pude fazer nada, ele simplesmente pegou fogo...
Dumbledore sorriu.
- Já não era sem tempo. Ele tem andado com uma aparência medonha há dias; e venho dizendo a ele para se apressar.
E deu uma risadinha a ver a cara de espanto de Harry.
- Fawkes é uma fênix, Harry. As fênix pegam fogo quando chega a hora de morrer e tornar a renascer das cinzas. Olhe ele...
Harry olhou em tempo de ver um pássaro minúsculo, amarrotado, recém-nascido botar a cabeça para fora das cinzas.
- É uma pena que você a tenha visto no dia em que queimou - disse Dumbledore, sentando-se à escrivaninha - Na realidade ela é muito bonita quase o tempo todo, tem uma plumagem vermelha e dourada. Criaturas fascinantes, as fênixes. São capazes de sustentar cargas pesadíssimas, suas lágrimas tem poderes curativos e são animais de estimação muitíssimos fiéis.
Dumbledore se acomodou no cadeirão à mesa e encarou Harry com aquele seus olhos azul-claros e penetrantes.
Mas antes que Dumbledore pudesse dizer outra palavra, a porta da sala se escancarou com estrondo, e Hagrid entrou, um olhar selvagem nos olhos, o gorro encarrapitado no alto da cabeça desgrenhada e o galo morto ainda balançando em uma das mãos.
- Não foi Harry, Prof. Dumbledore! - disse Hagrid pressuroso. - Eu estava falando com ele segundos antes daquele garoto ser encontrado, ele nunca teria tido tempo, meu senhor...
Dumbledore tentou dizer alguma coisa, mas Hagrid continuou falando, sacudindo o galo, fazendo voar penas para todo o lado.
- ... não pode ter sido ele, eu juro até na frente do Ministro da Magia, se precisar...
- Hagrid, eu...
- ... o senhor pegou o garoto errado, meu senhor, eu sei que Harry jamais...
- Hagrid! - disse Dumbledore em voz alta - Eu não acho que Harry tenha atacado essas pessoas.
- Ah - acalmou-se Hagrid, o galo pendurado imóvel a um lado. - Certo. Então vou esperar lá fora, diretor.
E saiu num repelão, parecendo constrangido.
- O senhor não acha que fui eu, professor? - repetiu Harry esperançoso enquanto Dumbledore espanava as penas de galo de cima de sua escrivaninha.
- Não, Harry, não acho - seu rosto novamente grave. - Mas ainda assim quero falar com você.
Harry esperou nervoso enquanto Dumbledore o estudava, as pontas dos seus longos dedos juntas.
- Preciso lhe perguntar, Harry, se tem alguma alguma coisa que você gostaria de me perguntar - disse gentilmente. - Qualquer coisa.
Harry ficou parado por um tempo, parecendo pensar na resposta certa.
- Não - disse Harry. - Não tem nada, não, professor...
Harry ficou mais alguns instantes na sala e depois saiu.
Yasmin ficou visível.
- Sinto que vocês estão me escondendo algo. - disse Dumbledore sério.
- Professor, se estivermos escondendo algo, tenha certeza de que tem um bom motivo. - disse Yasmin - Mas agora eu acho melhor eu ir. Até logo professor.
E saiu da sala pensando se tinha feito certo em não contar a Dumbledore o que estava acontecendo com Harry.
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