quarta-feira, 7 de setembro de 2011

                                     - Capitulo seis -
                            A lenda da Câmara Secreta



A aula de História da Magia estava como sempre. Nada de emocionante acontecia. O Prof. Binns abriu seus apontamentos e começou a ler num tom monótono como um aspirador de pó velho, até que quase todos os alunos na sala caíram num estupor profundo, de que emergiam ocasionalmente o tempo suficiente de copiar um nome ou uma data e, em seguida, tornar a adormecer. Estava falando havia meia hora quando aconteceu uma coisa que nunca acontecera antes. Hermione levantou a mão.
O Prof. Binns ergueu os olhos no meio de um discurso mortalmente maçante sobre a Convenção Internacional de Bruxos de 1289 e fez uma cara de surpresa.
- Senhorita... ah...?
- Granger, professor. Eu gostaria de saber se o senhor poderia nos contar alguma coisa sobre a Câmara Secreta - pediu Hermione com voz clara.
Dino Thomas, que estivera sentado com a boca aberta, espiando para fora da janela, acordou de repente do seu transe; a cabeça de Lilá Brown deitada sobre os braços se ergueu e o cotovelo de Neville escorregou da carteira.
O Prof. Binns pestanejou.
- Minha matéria é História da Magia - disse ele naquela voz seca e asmática. - Lido com fatos, Srta. Granger, não com mitos nem lendas. - Ele pigarreou fazendo um barulhinho como o de um giz que se parte e continuou. - Em setembro daquele ano, um subcomitê de bruxos sardos...
O professor gaguejou antes de parar. A mão de Hermione estava outra vez no ar.
- Srta. Grant?
- Por favor, professor, as lendas não se baseiam sempre em fatos?
O Prof. Binns olhou-a com tal espanto, que parecia que nenhum aluno, vivo ou morto, jamais o interrompera antes.
- Bem - disse o Prof. Binns lentamente -, é um argumento válido, suponho. - Ele estudou Hermione como se nunca antes tivesse olhado direito para um aluno. - Contudo, a lenda de que a senhorita fala é tão sensacionalista e até tão absurda que...
A classe inteira ficou pendurada em cada palavra que o professor dizia. Ele correu um olhar míope por todos, rosto por rosto virado em sua direção. Ele estava completamente desconcertado por aquela manifestação incomum de interesse.
- Ah, muito bem - disse vagarosamente. - Vejamos... a Câmara Secreta...
"Os senhores todos sabem, é claro, que Hogwarts foi fundada há mais de mil anos... a data exata é incerta... pelos quatro maiores bruxos e bruxas da época. As quatro casas da escola foram batizadas em homenagem a eles: Godrico Gryffindor, Helga Hufflepuff, Rowena Ravenclaw e Salazar Slytherin. Eles contraíram este castelo juntos, longe dos olhares curiosos dos trouxas, porque era uma época em que a magia era temida pelas pessoas comuns, e os bruxos e bruxas sofriam muitas perseguições."
Ele fez uma pausa, percorreu a sala com os olhos lacrimejantes e continuou:
- Durante alguns anos, os fundadores trabalharam juntos, em harmonia, procurando jovens que revelassem sinais de talento em magia e trazendo-os para sempre educados no castelo. Mas então surgiram os desentendimentos. Ocorreu uma cisão entre Slytherin e os outros. Slytherin queria ser mais seletivo com relação aos estudantes admitidos. Ele acreditava que o aprendizado de magia devia ser mantido o âmbito das famílias inteiramente mágicas. Desagradava-lhe admitir alunos de pais trouxas, pois os achava pouco dignos de confiança. Passado algum tempo houve uma séria discussão sobre o assunto entre Slytherin e Gryffindor, e Slytherin abandonou a escola.
O Prof. Binns parou de novo, contraindo os lábios, parecendo uma velha tartaruga enrugada.
- É o que nos contam as fontes históricas confiáveis. Mas estes fatos honestos foram obscurecidos pela lenda fantasiosa da Câmara Secreta. Segundo ela, Slytherin construiu uma câmara secreta no castelo, da qual os outros nada sabiam.
"Slytherin teria selado a Câmara Secreta de modo que ninguém pudesse abri-la até que seu legítimo herdeiro chegasse à escola. Somente o herdeiro seria capaz de abrir a Câmara Secreta, libertar o horror que ela encerrava e usá-lo para expurgar a escola de todos que não fossem dignos de estudar magia."
Fez-se silêncio quando ele acabou de contar a história, mas não foi o de sempre, o silêncio modorrento que dominava as aulas do Prof. Binns. Havia no ar um certo constrangimento enquanto todos continuavam a olhá-lo, esperando mais. O Prof. Binns fez um ar ligeiramente aborrecido.
- A história inteira é um perfeito absurdo, é claro. Naturalmente, a escola foi revistada à procura de provas de existência dessa câmara, muitas vezes, pelos bruxos e bruxas mais cultos. Ela não existe. Uma história contada para assustar os crédulos.
A mão de Hermione voltou a se erguer.
- Professor... o que foi exatamente que o senhor quis dizer com "o horror que a câmara encerra"?
- Acredita-se que haja algum tipo de monstro, que somente o herdeiro de Slytherin pode controlar - respondeu o Prof. Binns com sua voz seca e esganiçada.
Os alunos trocaram olhares nervosos.
- Afirmo que a coisa não existe - disse ele folheando suas anotações. - Não há Câmara alguma e monstro algum.
- Mas, professor - perguntou Simas Finnigan -, se a Câmara só pode ser aberta pelo verdadeiro herdeiro de Slytherin, ninguém mais seria capaz de encontrá-la, não é?
- Bobagem, O'Flaherty - disse o Prof. Binns, num tom irritado. - Se uma longa sucessão de diretores e diretoras de Hogwarts não encontraram a coisa...
- Mas, professor - ouviu-se a voz fina de Parvati Patil -, a pessoa provavelmente terá de usar Magia Negra para abri-la...
- Só porque um bruxo não usa Magia Negra não significa que não possa, senhorita Pennyfeather - retrucou o Prof. Binns. - Eu repito, se uma pessoa como Dumbledore...
- Mas talvez a pessoa tenha de ser parente de Slytherin, por isso Dumbledore não poderia... - começou Dino Thomas, mas para o professor aquilo já era demais.
- Basta - disse com rispidez. - É um mito! Não existe! Não há a mínima prova de que Slytherin tenha algum dia construído sequer um armário secreto de vassouras! Arrependo-me de ter contado aos senhores uma história tão tola. Vamos voltar, façam-me o favor, à história, aos fatos sólidos, críveis e verificáveis!
E em cinco minutos a classe voltara a mergulhar em seu torpor habitual.   

Nenhum comentário:

Postagens populares